A História dos Motos Clubes

17/05/2013 14:37

 

 

 

A História dos Motoclubes I

A história do motociclismo de estrada esta diretamente associada à história dos moto-clubes. A seguir um breve relato dos principais fatos que colaboraram para a edificação deste estilo tão cultuado.

Data de 1868 a construção da primeira motocicleta, apesar do crescimento do interesse sobre esta máquina fantástica estar cercando a virada do século XX. Desde os primórdios, ela já despertava o instinto de liberdade naqueles poucos que ousavam desafiá-la. Não demorou muito para que esses primeiros motociclistas percebessem as vantagens de viajar em grupo – apesar de que andar de moto já é inevitavelmente um ato solitário -. Já na primeira década do século XX se organizavam corridas de motos, o que aumentaria consideravelmente o interesse a admiração por este novo meio de transporte e consequentemente a criação de clubes que nada mais eram que entidades sociais de indivíduos que andavam de moto juntos. Neste período nasce o Moto Clube do Brasil primeira associação motociclística brasileira nos moldes de uma associação, cuja sede ainda hoje resiste no Rio de Janeiro.

Estas associações persistiram até a década de trinta quando apareciam nos EUA os primeiros moto-clubes com tendências mais rígidas. Nesta época eram produzidas mais de 200 marcas de motocicletas, mas o mercado consolidou apenas três: Harley Davidson, Indian e Excelsior, que juntas respondiam por 90% das vendas. Nesta década a grande depressão devastou a indústria e apenas a Harley Davidson conseguiu sobreviver, apesar de a Indian ter se mantido até 53 e retornado na década de 90.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos membros das forças armadas americanas foram desmobilizados e não conseguiram se readaptar vida da sociedade “normal” – deixando de lado aqui, o princípio da normalidade-. Era deprimente para eles, a rotina de trabalho, família, hipotecas, faculdades e etc. Acostumados com a adrenalina depois de tanto tempo vivendo no limite e ao mesmo tempo querendo desfrutar ao máximo a liberdade e o próprio fato de estarem vivos de volta ao seu país. Aos poucos foram se reunindo e encontraram na motocicleta o meio para satisfazer seu estilo de vida ideal. As motocicletas estavam baratas, vendidas como excesso de material nos leilões militares. Logo esses indivíduos passaram a compartilhar os fins de semana, mas aos poucos quando chegava à segunda-feira, nem todos iam para casa, transformando o clube de motocicletas do fim de semana em uma família de irmãos substitutos em tempo integral. Principalmente na Califórnia os veteranos formaram centenas de pequenos moto clubes como: Pissed of Bastards,  Jackrabbits, 13 Rebels e os Yellow Jackets. Os membros usavam suéteres do clube e rodavam juntos nos fins de semana. Lentamente formalizaram os escudos, as cores, que passaram a defender com sua honra, adaptando a hierarquia militar em uma estrutura de irmandade, subliminada sob os cargos eletivos das associações. Alguns clubes pré-existentes se readaptaram facilmente a esta nova filosofia, outros simplesmente desapareceram, o que não aconteceria no Brasil, os clubes Brasileiros não se adaptaram, continuando como associações ou se extinguindo.

A A.M.A. (American Motorcycle Association) logo percebeu que a guerra havia exposto muitos americanos as motocicletas e que os veteranos voltaram com experiências fantásticas em cima das Harley Davidson WA45, experiências estas, que eles fariam tudo para continuar vivenciando. Ansiosa em manter estes novos motociclistas, a A.M.A. passou a organizar competições, viagens e gincanas com um entusiasmo renovado. Entretanto a guerra não é o exercício mais saudável para a mente de quem combate no front e estes novos motociclistas farreavam muito mais que os motociclistas tradicionais. Sua rotina se resumia quase sempre a festas, disputas, bebedeiras e como era inevitável, algumas brigas. Talvez buscando retomar o tempo perdido. A população tolerava esses excessos porque os motociclistas tinham a seu favor o fato de terem defendido seu país na guerra, apesar de tudo isso estar sendo financiado pelas pensões do governo, o que posteriormente pesaria contra os veteranos, quando saindo da depressão a América tentava otimizar  seus custos com o apelo do apoio da população.

Foi em Hollister (CA) que o mito da marginalidade se concretizou, um fim de semana negro era o que faltava ao puritanismo americano e a mídia sensacionalista para taxar os motociclistas de foras da lei e os moto-clubes de gangues. Neste período a polícia e os comerciantes criaram uma serie de alternativas nos locais onde eram realizados os encontros para contornar esta aclamada rebeldia, como fechar  duas horas mais cedo e até deixar de servir cerveja. Os jornais estampavam manchetes sensacionalistas como “Revoltas… motociclistas assumem Cidade” e “Motociclistas destroem Hollister”. Até a Revista Life estampou uma fotografia de página inteira de um motociclista em uma Harley, com uma cerveja em cada mão, a A.M.A. se viu então diante de um pesadelo, denunciou os Bastards, culpando-os pelos incidentes e tentando mostrar a sociedade que todos os motociclistas não poderiam ser culpados pelo vandalismo de um único Moto clube.

Com o passar do tempo, ficou cada vez mais difícil separar os mitos da realidade. Quando Hollywood dramatizou o fim de semana de Hollister no filme de 1954 O Selvagem “The Wild One” com Marlom Brando, qualquer esperança de salvar a imagem dos motociclistas estava perdida. Os críticos pareciam incapazes de passar a idéia de que era puramente um filme sobre violência. O que parece ter perturbado os críticos era o fato de que a violência das jaquetas de couro estava de mãos dadas com a sexualidade contra a autoridade do puritanismo e dos ternos folgados.

O que Hollywood conseguiu foi incentivar verdadeiros predadores a criarem moto clubes e constituir verdadeiras gangues, o que fez da década de 50, uma página negra na história do motociclismo. Nasce nesta época também a rivalidade entre alguns clubes e o senso de território.

As motos eram em sua grande maioria Harley’s e passaram a ser despojadas de tudo que não fosse essencial – velocímetro, lanternas, espelhos e banco de carona – com isso ficavam mais leves e ágeis nas disputas. Esse estilo de moto ficou conhecido como  Bobber, que mais tarde deu origem as chopper, que eram motos modificadas para viagens – com frente alongada, banco com encosto e santo Antônio.

A moto passou a ter grande importância como sendo um complemento da personalidade de seu dono, e como modificações eram sempre feitas pelos próprios motociclistas, não havia assim duas motos iguais.

A década de 50 também ficou marcada como a década de expansão dos MC’s Americanos para outros países.

A década de 60 foi fantástica para o movimento motociclística. As motocicletas voltaram a ser tema de Holywood, Elvis Presley com Roustabout e Steve McQueen com A Grande Fuga, alavancaram uma série de filmes sobre o tema que chegou ao seu auge com Easy Riders. Finalmente vislumbra-se uma mudança imagem do motociclista com o início da fase romântica do motociclismo, que perdurou até o final da década de 70. Este período fixou o motociclística como ícone de liberdade e resistência para o sistema. Nesta década, mas precisamente em 1969, nasce no Rio de Janeiro, o primeiro moto clube Brasileiro que seguia a nova estrutura de hierarquia e irmandade dos Moto-clubes internacionais.

Nesta década o estilo “motociclistico” assumiu uma nova imagem e vitalidade.  Estes movimentos revitalizaram a reputação do motociclista e foram responsáveis por atrair motociclistas cujo único desejo era projetar a imagem de diversão saudável, contribuição à comunidade e a liberdade inerentes a experiência das Harley Davidson.  A década de setenta viu a disseminação dos moto-clubes pelo mundo, alguns se mantiveram fieis às antigas o Harley e outros se adaptaram a outras motos já que nesta década as motos japonesas começaram a dominar o mercado mundial. A partir do final da década de sessenta iniciou-se o movimento de moto-clubes dentro destas novas normas de conduta e irmandade. Os sessenta anos de atraso, foram diluídos nas décadas de 70 e 80. Vivenciamos então a fase romântica de encontros onde o único prazer era viajar para estar com os amigos ao pé de uma fogueira falando sobre motos viagens e sabe-se o que mais.